quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Feliz 2009


Agora que o último ocaso do ano velho já aconteceu, saudemos a aurora do novo!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Left...


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O maior da minha rua


O Alberto não era o maior da minha rua, porque o Alberto não era da minha rua. Eu é que hoje moro na rua dele. O Alberto era, portanto, o maior da sua rua. Mas, como a minha rua faz fronteira com a dele e porque também éramos da mesma classe (não lhe chamávamos turma na Primária), vivemos histórias comuns, muitas vezes em lados opostos das barricadas.
O Alberto não era o maior da sua rua em tamanho ou em idade, era tão-só o mais galhardo, o mais valente, o mais maluco. Eram dele as ideias mais loucas para entretenimento da malta. Foi ele quem “abriu” aquele Fiat 600 branco que alguém deixou abandonado lá na rua o tempo suficiente para despertar a curiosidade e a cobiça dos pequenos vagabundos da Rua H de baixo. E era vê-los a empurrarem o carro rua acima, com o Alberto sempre a orientar a manobra, para depois se enfiarem todos lá dentro e, sempre com o Alberto ao volante, deslizarem rua abaixo até embaterem, com grande estrondo e algumas marcas corporais, nos arbustos que marginavam o seco arroio a que chamávamos regueira e que marcava os limites não só da rua como do bairro – a seguir começava o caminho para a vacaria, serpenteando pelo meio da seara.
Sempre nos roemos de inveja por nunca termos podido entrar em tão loucas carreiras, apenas pelo facto de sermos da outra rua. É claro que eles também nunca viajaram parados no nosso carro, o qual tínhamos também “aberto”, mas que não podíamos fazer circular dada a configuração da nossa praceta – as nossas viagens eram mais imaginárias, do tipo “Hoje vamos até ao meu Alentejo; conduzo eu, que sei o caminho; amanhã levas tu o carro para o teu.” Já terá dado para perceber que na minha rua havia vários “maiores” – uns eram-no num plano, outros noutro.
Fomos crescendo, em corpo e em aventuras, e o Alberto foi continuando a ser o maior da rua dele. Já mais velhos, as diferenças “tribais” foram desaparecendo e os domínios de cada um começaram a ultrapassar as fronteiras da rua para se alargarem à dimensão do bairro. Cedo chegámos à idade de ficar na rua até querermos, noite e madrugada dentro, ocupando o tempo num misto de brincadeiras de adultos com o resto das que ficaram do tempo de criança. A bicicleta, transportando-nos de meninos a homens, cumpria, como nenhum outro brinquedo, essa função. As bicicletas que trazíamos da infância cresceram connosco – os selins foram subindo, as rodas foram aumentando até ao limite do garfo – e, como nós, foram mudando e aperfeiçoando o estilo – perderam os guarda-lamas e as campainhas, ganharam guiadores de cross com punhos a condizer, e até os pedais foram substituídos, tal como a pintura de origem.
Também com a bicicleta o Alberto tinha de ser o maior – agora, o maior dos maiores. Fazíamos corridas contra-relógio na rua até às duas da manhã, com algum perigo, para nós e para os (ainda que poucos naquele tempo) automobilistas. O Alberto, um dia, ou melhor uma noite, desviando-se in extremis de uma Ford Transit que subia a rua, espalhou-se no átrio da escada do seu prédio, porque felizmente a porta estava escancarada.
Quando um de nós precisava de uma qualquer peça para a sua máquina, íamos todos, em bando, a Queluz, à oficina do velho Carreta. Escusado seria dizer que enquanto um negociava para comprar, lá dentro, os outros, cá fora, iam trocando peças das bicicletas que traziam por outras das que estavam para arranjo ou já arranjadas. Não era bem um roubo, porque na maior parte das vezes funcionava na base da troca.
Numa dessas infindáveis e douradas tardes de fim de Primavera ou de princípio de Verão, em que – precursores das vias e infra-estruturas futuras – atalhávamos caminho pela seara de Queluz Ocidental, logo depois da figueira brava, passando a linha do comboio com as "biclas" às costas no sítio exacto onde vieram a construir a estação nova, para pedalarmos, a corta-mato, pelas traseiras do Palácio, ao lado das cavalariças ao tempo ocupadas pelos equídeos da GNR. O Alberto, obviamente, ia na frente, a uma distância razoável do pelotão. Tão confiante se mostrava que, sempre pedalando, ladeira abaixo, ia, virado para trás, provocando os perseguidores e vangloriando-se com o cheiro da vitória antecipada, enquanto nós, gesticulando e gritando, lhe dizíamos para olhar para a frente. Quando, finalmente, decidiu virar-se na direcção do seu destino, já era tarde de mais: estava a entrar no maior monte de estrume de cavalo que me lembro de alguma vez ter visto, com bicicleta e tudo. É claro que, depois de se desenvencilhar do monturo, lhe demos a maior distância possível, enquanto se encaminhava para o Jamor, que na época não estaria muito mais limpo do que ele.



* Alberto é um nome fictício para uma personagem real.

** Esta resposta ao desafio da Lady Godiva do “
Mar Aberto” não é lá muito natalícia, mas...

*** Roubei a foto
aqui.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

On the road again



Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

The Plasmatics - Chaos 1981

Digam lá que os anos 80 não foram loucos, vá, digam!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Requerimento à Censura, Tom Zé

Do tempo em que, por haver censura prévia, se tinha de ser mais criativo para a ludibriar e desafiar.
Hoje, é claro que se pode dizer tudo, principalmente porque ninguém ouve ninguém, o que torna inconsequente o que se diga...

Monteverdi: Vespro della Beata Vergine: Magnificat (1)

Música dos céus na terra...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

domingo, 7 de dezembro de 2008

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O desafio da Clarice

A nossa amiga Clarice desafiou a malta para uma actividade lúdico-confessional.
Aceitando a proposta, aqui está o resultado:


1. um bocadão de mim...
2. A banda escolhida: Pink Floyd.

3.

3.1. És homem ou mulher? I am just a new boy/ A stranger in this town (primeiros versos de “Young Lust”).

3.2. Descreve-te: Ainda sou “One of the Few” que continuam “On the Run”, “Wearing the Inside Out”.

3.3. O que pensam as pessoas de ti? Muitos pensam que tenho “Brain Damage” e, ao olharem para os meus “Paranoid Eyes”, dizem-me: “Shine on Your Crazy Diamond”.

3.4. Como descreves o teu último relacionamento:
“Another Brick in the Wall”.

3.5. Descreve o estado actual da tua relação:
“Empty Spaces”.

3.6. Onde querias estar agora?
“Outside the Wall”, “Learning to Fly”.

3.7. O que pensas a respeito do amor?
É tão belo e tão difícil de concretizar como “Two Suns in the Sunset”; disse difícil, não impossível, porque ainda sobram algumas “High Hopes” de “Coming Back to Life”.

3.8. Como é a tua vida?
“Comfortably Numb”.

3.9. O que pedirias se pudesses ter só um desejo?
“Yet Another Movie”: “Happiest Days of Our Lives”.

3.10. Escreve uma frase sábia:
“Let There Be More Light”.


4. Como das poucas pessoas que conheço por estas bandas já quase todas responderam ao desafio, vou ter de alargar o escopo da coisa. Lanço, por minha vez, o desafio a:

Aristóteles

Buda

Jesus Cristo

Karl Marx

ou qualquer outro indivíduo que, mesmo que não esteja definitivamente morto, não se ande "a sentir lá muito bem"...

Wireless


Pensei entrar em pânico e desesperar se e quando isto me acontecesse, mas aquilo que sinto é uma estranha serenidade e a plena consciência de que não me restam muitos minutos de oxigénio e de que o meu fato e restante equipamento talvez não resistam até então. Não há lugar para o medo nem para lamentações. Nunca nenhum homem pôde, como eu, morrer de forma tão bela, viajando à deriva, mergulhado no caldo primordial, em comunhão com todos os elementos que constituem, desde sempre e para sempre, o nosso universo. Não, não vou morrer; vou regressar ao que sempre fui. E nem quero pensar muito nisso. Quero aproveitar cada momento da mais bela viagem de todas. Quero ver tudo até ao último instante. A Terra é tão bela vista de longe. E parece tão quente e tão alegre. Ah! Frio! Muito frio! Talvez tenha começado a penetrar no fato pelo rasgão do cordão umbilical que me prendia à estação... Que belo! Que belo! Que belo!...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Anos 80

Os trabalhadores do comércio lá estão de serviço em mais um feriado (e como trabalho infantil)...