domingo, 30 de novembro de 2008

Um conto de Natal

Parece que chegou o Natal... entremos no espírito!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Flober

Parece que foi noutra vida...


Parece que foi noutra vida, mas não passou tanto tempo assim desde aquele fim de férias em que 'desci' do meu porto de abrigo e fui ao teu encontro na Carrapeteira "para fecharmos o Verão". Ainda respirávamos tranquilidade; ainda discutíamos e divergíamos, com fervor, mas com fair play, sobre os mais variados assuntos e sobre as nossas vidas; ainda nos sentíamos jovens enquanto adultos; ainda continuávamos a construir a nossa amizade, pois ainda havia caminho a percorrer; ainda não tinham acontecido algumas das catástrofes que se avizinhavam - as tuas, as nossas, as do mundo...
A Praia do Amado, tarde fora... o jantar no Sítio do Rio, noite dentro... o salto a Sagres, já madrugada... este tema dos St. Germain ouvido pela primeira vez por todos os que estavam nessa noite no Dromedário, muito alto, bem batido, fazendo mover todos os músculos de todos os corpos e até vibrar todas as mesas e todos os copos...
O que veio mais tarde - mea culpa, mea maxima culpa! - não pode apagar esses dias em que a nossa amizade chegou perto do cume... Tenho saudades tuas e minhas!
* este é que é o post que eu queria ter publicado hoje de manhã... mas desta foi...

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Le Silence de la Mer

A ti, Mario, poeta-carteiro (de Pablo Neruda)

domingo, 23 de novembro de 2008

The Stone Age

"A pedido de várias famílias", uma continuação da História do Mundo...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Primordial


O começo do Mundo
Primeiro que tudo houve o Caos, e depois
a Terra de peito ingente, suporte inabalável de tudo quanto existe,
e Eros, o mais belo entre os deuses imortais,
que amolece os membros e, no peito de todos os homens e deuses,
domina o espírito e a vontade esclarecida.
Do Caos nasceram o Érebo e a negra Noite
e da Noite, por sua vez, o Éter e o Dia.
A Terra gerou primeiro o Céu constelado,
com o seu tamanho, para que a cobrisse por todo
e fosse para sempre a mansão segura dos deuses bem-aventurados.
Gerou ainda as altas Montanhas, morada aprazível
das deusas Ninfas, que habitam os montes cercados de vales.
Hesíodo, Teogonia, 116-130

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Coisas do Arco da Velha



Lentamente
foi percorrendo todos os anéis do arco-íris,
até que
se lhe esgotaram as lágrimas...

domingo, 16 de novembro de 2008

sábado, 15 de novembro de 2008

O Dia da Criação - I


I


Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas como o mar
E bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por vias das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo o mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A manhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

Vinicius de Moraes

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Há pó no ar! (Urso da Casa Azul) RTP2

As coisas que a miúda me faz descobrir!...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Life Sentence

479.

Entrei no barbeiro no modo do costume, com o prazer de me ser fácil entrar sem constrangimento nas casas conhecidas. A minha sensibilidade do novo é angustiante: tenho calma só onde já tenho estado.
Quando me sentei na cadeira, perguntei, por um acaso que lembra, ao rapaz barbeiro que me ia colocando no pescoço um linho frio e limpo, como ia o colega da cadeira da direita, mais velho e com espírito, que estava doente. Perguntei-lhe sem que me pesasse a necessidade de perguntar: ocorreu-me a oportunidade pelo local e pela lembrança. «Morreu ontem», respondeu sem tom a voz que estava por detrás da toalha e de mim, e cujos dedos se erguiam da última inserção na nuca, entre mim e o colarinho. Toda a minha boa disposição irracional morreu de repente, como o barbeiro eternamente ausente da cadeira ao lado. Fez frio em tudo quanto penso. Não disse nada.
Saudades! Tenho-as até do que me não foi nada, por uma angústia de fuga do tempo e uma doença do mistério da vida. Caras que via habitualmente nas minhas ruas habituais – se deixo de vê-las entristeço; e não me foram nada, a não ser o símbolo da vida.
O velho sem interesse das polainas sujas que cruzava frequentemente comigo às nove e meia da manhã? O cauteleiro coxo que me maçava inutilmente? O velhote redondo e corado do charuto à porta da tabacaria? O dono pálido da tabacaria? O que é feito de todos eles, que, porque os vi e os tornei a ver, foram parte da minha vida? Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros. Amanhã também eu – a alma que sente e pensa, o universo que sou para mim – sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas, o que outros vagamente evocarão com um «o que será dele?». E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade das ruas de uma cidade qualquer.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

domingo, 9 de novembro de 2008

Breaking Glass (1980)

Com 15 aninhos celebrados há menos de duas semanas, aterrei em Heathrow em 21 de Julho de 1980.
O mundo mudou a partir desse dia, e eu soube-o nessa hora, mas numa dimensão ínfima se comparada com o que disso sei hoje.
Portugal, Lisboa, Massamá em 1980 estavam a anos-luz daquilo que comecei a ver a partir do momento em que o avião tocou o solo. Outro mundo, outra dimensão, em todos os planos. O que aprendi nos dois meses em que lá estive, para o bem e para o mal, moldou-me definitivamente o carácter. Vivendo em casa de familiares lá emigrados, trabalhando ao seu lado nas limpezas de escritórios e lojas ao fim do dia, tinha as manhãs e as tardes por minha conta e a chave de casa no bolso, ao lado das libras dos meus salários semanais. Não fiz tudo o que um puto de 15 anos poderia ter feito naquelas circunstâncias, mas isso só o soube mais tarde. Os meus horizontes eram limitados e a cidade era minha até onde pudesse ir a pé ou de autocarro ou metro sem correr o risco de me perder.
Talvez um dia continue a escrever esta história, entrando nos pormenores. Hoje, lembrei-me desse Verão, porque me lembrei dos dois discos - sim, só dois LP! - que de lá trouxe, comprados em Oxford Street: «McCartney II», acabadinho de sair e gravado pelo ex-Beatle praticamente em casa, e «Breaking Glass», primeiro trabalho de Hazel O'Connor e banda sonora do filme homónimo no qual ela é protagonista, película essa que só chegaria a Portugal, salvo erro, quase dois anos depois.
Em 80, dizia-se que o 'punk' tinha morrido, mas o que eu vi em Londres não foi nada disso.
Em 80, a 'new wave' amadureceu e vingou pelo menos meia década.
«Breaking Glass» é 'new wave' mas 'punk'. Não é uma referência para os entendidos, mas influenciou-me talvez mais do que qualquer outra coisa que tivesse ouvido até então.
E, entretanto, 28 longos anos depositaram-lhe muitas camadas arqueológicas em cima.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O simples é belo

Esta é a versão d'«O Mundo da Criança».
A mais antiga que conheço (e de que gosto mais) está em:
http://www.youtube.com/watch?v=NcSgW1tBYrg#

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ocaso

"Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar."
Eugénio de Andrade
A ti, inevitavelmente, volto e sempre voltarei. Estás presente, de pedra e cal, nas minhas memórias mais antigas e mais queridas do tempo em que, corria, saltava, escalava, nadava, pescava, nos teus domínios e sob o teu atento olhar protector. Ainda eras farol nesse tempo. Lembro-me de a Dona Augusta sair de casa com um garrafão de petróleo, ao fim do dia, para acender a chama que toda a noite orientaria a navegação. Lembro-me de ela continuar a fazê-lo com o teu primeiro substituto. Já não existe nenhum deles. Tu subsistes, resistes, adaptado a candeeiro.
Sejas o que fores, quando a noite se aproxima, cansada de galgar meio mundo de terras e terras, és tu quem lhe dá as boas vindas ao mar e lhe desejas sorte para a longa viagem. Ficaste sempre, desejando partir. Apenas em sonhos, apanhas a boleia da noite e vais com ela por esse mar fora atrás do sol que vos foge sempre. Imaginas apenas o que existe para além do horizonte. Mas ouves todos os fins de tarde as notícias que a noite te traz e te grita a correr, antes de se lançar ao silêncio da travessia, e isso basta-te para conheceres o mundo como se o conhecesses realmente.
E é sobre isso que todas as noites conversas com a tua companheira que eterna e ternamente te fita do outro lado da baía, meio escondida pela vegetação que a veste e embeleza para ti. Sobre isso e sobre tantas outras coisas que são só vossas e a mais ninguém dizem respeito.

domingo, 2 de novembro de 2008

The Quest


PORTUGAL SACRO-PROFANO
Vila do Conde

O lugar onde o coração se esconde
é onde o vento norte corta luas brancas no azul do mar
e o poeta solitário escolhe igreja pra casar
O lugar onde o coração se esconde
é em dezembro o sol cortado pelo frio
e à noite as luzes a alinhar o rio
O lugar onde o coração se esconde
é onde contra a casa soa o sino
e dia a dia o homem soma o seu destino
O lugar onde o coração se esconde
é sobretudo agosto vento música raparigas em cabelo
feira das sextas-feiras gado pó e povo
é onde se consente que nasça de novo
àquele que foi jovem e foi belo
mas o tempo a pouco e pouco arrefeceu
O lugar onde o coração se esconde
é o novo passado a ida pra o liceu
Mas onde fica e como é que se chama
a terra do crepúsculo de algodão em rama
das muitas procissões dos contra-luz no bar
da surpresa violenta desse sempre renovado mar?
O lugar onde o coração se esconde
e a mulher eterna tem a luz na fronte
fica no norte e é vila do conde

Ruy Belo,
Homem de Palavra[s],
1970

sábado, 1 de novembro de 2008

oito bolas de pêlo

Descobri com a 'piquena'.