Com 15 aninhos celebrados há menos de duas semanas, aterrei em Heathrow em 21 de Julho de 1980.
O mundo mudou a partir desse dia, e eu soube-o nessa hora, mas numa dimensão ínfima se comparada com o que disso sei hoje.
Portugal, Lisboa, Massamá em 1980 estavam a anos-luz daquilo que comecei a ver a partir do momento em que o avião tocou o solo. Outro mundo, outra dimensão, em todos os planos. O que aprendi nos dois meses em que lá estive, para o bem e para o mal, moldou-me definitivamente o carácter. Vivendo em casa de familiares lá emigrados, trabalhando ao seu lado nas limpezas de escritórios e lojas ao fim do dia, tinha as manhãs e as tardes por minha conta e a chave de casa no bolso, ao lado das libras dos meus salários semanais. Não fiz tudo o que um puto de 15 anos poderia ter feito naquelas circunstâncias, mas isso só o soube mais tarde. Os meus horizontes eram limitados e a cidade era minha até onde pudesse ir a pé ou de autocarro ou metro sem correr o risco de me perder.
Talvez um dia continue a escrever esta história, entrando nos pormenores. Hoje, lembrei-me desse Verão, porque me lembrei dos dois discos - sim, só dois LP! - que de lá trouxe, comprados em Oxford Street: «McCartney II», acabadinho de sair e gravado pelo ex-Beatle praticamente em casa, e «Breaking Glass», primeiro trabalho de Hazel O'Connor e banda sonora do filme homónimo no qual ela é protagonista, película essa que só chegaria a Portugal, salvo erro, quase dois anos depois.
Em 80, dizia-se que o 'punk' tinha morrido, mas o que eu vi em Londres não foi nada disso.
Em 80, a 'new wave' amadureceu e vingou pelo menos meia década.
«Breaking Glass» é 'new wave' mas 'punk'. Não é uma referência para os entendidos, mas influenciou-me talvez mais do que qualquer outra coisa que tivesse ouvido até então.
E, entretanto, 28 longos anos depositaram-lhe muitas camadas arqueológicas em cima.
domingo, 9 de novembro de 2008
Breaking Glass (1980)
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12 comentários:
E era gira a rapariga. Lembro-me bem.
TU tinhas de conhecer, claro! Era, Carlos, era gira, mas de uma beleza muito diferente da de outra que conheci na mesma altura e que é uma das tuas deusas - Debbie Harry. Ouvia, lá, todos os dias um single da minha prima: "Call Me", Blondie. Trouxe-o gravado em cassete, numa das miscelâneas.
Gostava de saber mais desta tua história fora de portas. Adorava ter tido essa experiência, estar uns tempos fora. Ainda tenho uma esperança... nunca para ficar, mas com bilhete de volta... eu ia!
beijo de bom domingo!
clarice:
Não é uma história muito interessante, vista - hoje - pelos olhos de um adulto, mas haverá certamente oportunidade de ta contar. Essa e a dos quatro ou cinco verões que se seguiram - quase todos passados a trabalhar 'fora de portas' (Galiza) ainda que em casa de familiares - são histórias de crescimento.
Uma coisa é certa: viajar, sair 'fora de portas' e lá viver é um 'bicho' que nos entra no corpo e nunca mais sai - e se, por natureza, "só estamos bem onde não estamos", ainda pior.
bom domingo com beijo
Ora bem, 1980...
Vidas diferentes!
Recordemos: 1/4 do Verão - Caparica, no parque de campismo, com amigos; 1/4 do Verão, Monte Gordo, com amigos; 1/4 do Verão, acampamento, com escuteiros; 1/4 do Verão, por aí, com os pais.
Alguns 'fora de portas', mas nunca lá vivendo e nada disso em 1980; e nunca nada de 'só estar bem onde não estou', antes pelo contrário, mesmo antes pelo contrário - adoro prolongar estadas...; e contar e ouvir histórias também faz o meu género.
O resto... se calhar não me disse tanto como os comentários. Desculpa. Às vezes acordo à segunda, à terceira...
Até logo, portanto. Se calhar.
Voltei para dizer que, em 80, passei o Verão a ouvir, preferencialmente, o Ar de Rock, do Rui.
lady:
Em 1980, não pude saber o que era praia, porque já voltei muito tarde; o "Ar de Rock" só o conheci findo o Verão, quando comecei a minha primeira temporada na Ferreira - gostei, mas preferi, logo a seguir, os UHF (vinham mais ao encontro do Vítor pós-Londres; então, quando surgiu o «À Flor da Pele», temas como "Ébrios... pela vida" ou "Rapaz Caleidoscópio" estavam mesmo na linha... mas já vamos 81 a dentro!!!); depois, morre o Bob Marley e aparecem-me os The Clash e os B52's e toda a malta do Roock Português e o "Rock em Stock" e o "Rolls Rock/Som da Frente" com a lista rebelde e por aí fora, com muitas experiências de vida associadas à música... and so on, and so on...
vítor: é engraçado falares no Call Me. No meu blog, se tiveres paciência para ires até lá procurar, escreve Colour Me Your Colour, Baby no espaço em branco no canto superior esquerdo da página e carrega em Pesquisar no Blog. Vais poder ler qualquer coisa a propósito de Call Me. Um abraço.
carlos:
já lá fui espreitar!
Também escrevias num canto do quadrado que era a capa do disco a data em que o adquirias, não é?
Acho que a capa do disco da minha prima não era igual, mas reconheço esta; por isso, devo estar baralhado ou a misturar memórias (tenho de falar sobre isto com os miúdos do 10.º...). Mas, no dia em que o compraste, eu estava em Londres a ouvi-lo de certeza, antes de sair para a rua e ir dar uma volta no Regent's Park para ver as miúdas dos colégios a jogarem hóquei em campo com uniformes de mini-saia escocesa, não sei se me estás a acompanhar o raciocínio... eram boas! Praticantes da disciplina, quero eu dizer! Daquilo não se via cá! Continuo a falar da modalidade!...
15 anos, o que é que se pode esperar? Interesses desportivos, claro.
Abração
vítor: calculo que o interesse por certas modalidades continua desperto em ti ;-) Sejam elas blondies ou morenas...
carlos:
o interesse continua mas o desporto mudou tanto em (quase) trinta anos - a "verdade desportiva" é hoje bem diferente!
A verdade desportiva acima de tudo. Chega de Apitos Dourados, ou melhor... Pitas Douradas ;-)
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