quinta-feira, 30 de julho de 2009

domingo, 26 de julho de 2009

sábado, 25 de julho de 2009

quinta-feira, 23 de julho de 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

Porquê?

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

.......................................Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Onde é que tu estavas... há 40 anos?


Eu estava onde estive ontem: no meu Sul.
Porto Côvo era, então, uma pequena aldeia com apenas três ruas.
Além do, ao tempo, pequeno estabelecimento do recentemente falecido Augusto do Moinho, a que até hoje chamamos Correio, e da padaria do Raul Marta, três casas acima da nossa, apenas meia dúzia de vendas – bem distantes de se transformarem em cafés e restaurantes com pronto pagamento e sem serviço de mesa – tinham já electricidade. Telefones só havia dois - também no Correio e na Padaria. A água já entrava numa dezena e meia de edifícios em canos de chumbo, mas saía pela porta ou pela janela em despejos de alguidar ou balde nem sempre acompanhados do - já então em desuso - "água vai!" As casas de banho, nas poucas casas em que já existiam, consistiam numa sanita, com escoamento para fossas a céu aberto, mas a maior parte dos habitantes fixos e dos ocasionais banhistas dirigia-se à barroca (onde habitava uma comunidade utilíssima de escaravelhos das bolas) e escolhia uma moita para se agachar - chegava a ser local de encontro.
E televisores, quantos existiam lá em 20 de Julho de 1969?
Pelo que me contam, apenas três, em outras tantas casas comerciais, ao descer da rua principal: uma no Abilardo (actualmente, uma pizaria), venda que também alugava quartos; outra, no "café" Hermínio (espaço hoje partilhado por duas lojas), onde na minha adolescência vi muitos filmes que uma Renault 4L transportava e anunciava; a última, na Pensão Abelha (desde há uns anos, uma espécie de loja dos 300), onde praticamente acabava a rua e começava o caminho da Praia Pequena.
Foi nesses três televisores que, lá para as três e tal da manhã, depois de uma noite inteira de expectativa, assistiram à chegada dos primeiros homens à Lua muitos homens da aldeia, entre os quais o meu pai, o meu avô materno e o primo Jacinto, que foram alunando com o aconchego do medronho, de quando em vez refrescado com água "das pedras". Como, depois de jantar, não tinham dito ao que iam, a minha mãe, em casa sem saber o que se passava, pegou em mim e foi procurar o meu pai. E foi assim - disseram-mo há pouco ao jantar - que acabei por assistir ao que o mundo inteiro estava a ver.
Os meus pequenos passos de homem de 4 anos e 11 dias, nessa noite, foram os grandes passos da minha humanidade em construção.

domingo, 19 de julho de 2009

Alerta

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.
....................................................... Bertolt Brecht

sexta-feira, 17 de julho de 2009

domingo, 5 de julho de 2009

Antes e depois de nós


Há umas semanas, regressando a casa depois das aulas, tomei o percurso de sempre, a N250, espécie de CREL de há meio século atrás, que liga Caxias a Sacavém, servindo povoações como Cacém, Belas, Caneças e Loures. É precisamente o troço Belas–Caneças que me possibilita o vaivém diário há quase duas dezenas de anos. Nessa ocasião, tendo "ligado o piloto automático" e navegando entre o Olival do Santíssimo, a estibordo, e a Serra da Helena, a bombordo, ia desenhando as curvas já tão conhecidas e pensando cá nas minhas coisas, quando, num sítio improvável e aparentemente sem razão alguma, o carro que me precedia parou. Reduzindo a minha velocidade até me imobilizar atrás dele tive oportunidade de me aperceber do "obstáculo": uma jovem mãe e sua quase recém-nascida prole, em passo bem marcado e decidido, acabados de sair de uma moita, embrenharam-se num valado, em direcção a uma das primeiras mães-de-água do centenário aqueduto joanino.
Apesar de a mãe perdiz não ter provavelmente muito mais do que um ano de vida, o trilho que seguia é decerto mais antigo do que o milenário aqueduto romano que jaz sob o seu descendente setecentista e, portanto, muito anterior a qualquer N250 ou estrada militar. É claro que, embora se apresentasse pela esquerda, a prioridade de passagem era daquela família: quem atravessava éramos nós. O seu caminho já existia antes de nós e continuará a existir muito depois de nos irmos.