sexta-feira, 10 de junho de 2011

Portugal



PORTUGAL



Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!

*

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há «papo-de-anjo» que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

Alexandre O'Neill

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

El largo y curvo camino



The long and winding road
that leads to your door
will never disappear
I've seen that road before
It always leads me her
Lead me to you door

The wild and windy night
that the rain washed away
Has left a pool of tears
crying for the day
Why leave me standing here
let me know the way

Many times I've been alone
and many times I've cried
Any way you'll never know
the many ways I've tried

But still they lead me back
to the long winding road
You left me standing here
a long long time ago
Don't leave me waiting here
lead me to your door

But still they lead me back
to the long winding road
You left me standing here
a long long time ago
Don't leave me waiting here
lead me to your door
Yeah, yeah, yeah, yeah

                            Lennon / McCartney

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Relíquia


Para ti, Guida, no teu aniversário, uma relíquia do tempo em que ainda éramos 'piquenos'.

Beijo!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Tempo


Há já muito tempo que não aparecia por cá.
Mas estou vivo.
E tenho sentido a ausência.
Desejo a todos um óptimo ano novo!

domingo, 7 de novembro de 2010

Descobrir o Presente


Especialmente para ti, Guida, porque estou certo de que vais gostar e também porque, nas arrumações de gavetas, às vezes, saem de lá coisas novas.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

domingo, 10 de outubro de 2010

222



Terrível palavra é o non. Não tem direito nem avesso; por qualquer lado que o tomeis, sempre soa e diz o mesmo. Lede-o do princípio para o fim, ou do fim para o princípio, sempre non. Quando a vara de Moisés se converteu naquela serpente tão feroz, que fugia dela por que o não mordesse, disse-lhe Deus que a tomasse ao revés. E logo perdeu a força, a ferocidade e a peçonha.
O non não é assim: por qualquer parte que a tomeis, sempre é serpente, sempre morde, sempre fere, sempre leva veneno consigo. Mata a esperança, que é o único remédio que deixou a natureza a todos os males. Não há correctivo que o modere, nem arte que o abrande, nem lisonja que o adoce. Por mais que confeiteis um não, sempre amarga; por mais que o enfeiteis, sempre é feio; por mais que o doureis, sempre é de ferro. Em nenhuma solfa o podeis pôr que não seja mal soante, áspero e duro. Quereis saber qual é a dureza de um não? A mais dura coisa que tem a vida é chegar a pedir e, depois de chegar a pedir, ouvir um não. Vede o que será. A língua hebraica, que é a que falou Adão e a que mais naturalmente declara a essência das coisas, chama ao negar o que se pede envergonhar a face. Assim disse Bersabé a Salomão: “Trago-vos, Senhor, uma petição, não me envergonheis a face”. E por que se chama envergonhar a face negar o que se pede? Porque dizer não a quem pede é dar-lhe uma bofetada com a língua. Tão dura, tão áspera, tão injuriosa palavra é um não. Para a necessidade, dura; para a honra, afrontosa; e, para o merecimento, insofrível.

António Vieira, in Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma