sexta-feira, 5 de março de 2010

Abracadabra


Há coisas que custo a perceber neste ciberespaço em que navegamos todos os dias. Uma das que me têm ocupado algum tempo de vida nos últimos dias é o facto de, apesar de várias tentativas frustradas, não ter conseguido encontrar em lado nenhum a letra de um dos temas da discografia de Paulo de Carvalho que mais me marcaram - exactamente o que empresta o título a este post: «Abracadabra».
Como é possível navegar, horas a fio, num imenso mar de lixo, à cata de uma preciosidade, e acabar por de lá voltar com um indelével sentimento de frustração?
Não há vídeos no Youtube, letra nos sítios do costume, uma ponta por onde se possa desenovelar qualquer pista segura...
E eu, que já há tanto tempo ando a querer dizer com palavras alheias alguma coisa sobre os dias que correm, vejo-me obrigado a arriscar a confiança nos ecos que me vêm da memória.
Acho que eram assim as palavras que a Isabel Bahia alinhavou para o Paulo de Carvalho cantar:

                                Aqui está tudo bem!
                                Aqui está tudo tão bem!
                                O sol é mesmo de ouro,
                                a lua é toda de prata.
                                E quando chove
                                só caem diamantes!

                                Aqui não há semáforos,
                                aqui só há chupa-chupas.
                                E até as bengalas dos velhos
                                são feitas de chocolate.
                                 Ai, como é bom, tão bom,
                                 vivermos aqui!

                                  Abracadabra!
                                  Abrem-se as portas.
                                  Abrem-se os olhos de espanto.
                                  Não vejo o lado de fora!
                                  Quem me tira do encanto?

                                  (...)

11 comentários:

Guida Palhota disse...

Confio na tua memória, Vítor. Como confio na trabalheira a que te dispuseste para tentares conseguir aquilo que querias. Por isso, nem vou eu procurar também. Caso contrário, arranjaria tempo para te surpreender.
Mas, sabes, não sei de que dias de "encanto" falas tu!
Será que a alguns só é dado ver o lado de fora enquanto outros só podem aceder ao de dentro, vivendo uns e outros em eterno desequilíbrio?!...

beijos equilibrados

Vítor disse...

Guida:

Eu não falo de dias de encanto. O texto diz "encanto" em vez de "encantamento", talvez apenas por necessidade rímica.
Aquilo que queremos (o texto e eu) é dizer que a malta anda toda alienada com a realidade.

Beijo

Guida Palhota disse...

Eu percebi! E, por isso, desequilibrada. Ou não?

Vítor disse...

Guida:

Podes chamar-lhe desequilibrada. Aceito.
Mas só se lhe pode atribuir esse qualificativo se, por meio de um efeito de distanciação quase brechtiano, formos suficientemente loucos para estarmos suficientemente lúcidos.

Guida Palhota disse...

Ah, Vítor, então e nós não somos exactamente isso?!

Vítor disse...

Guida:

Nós, quem?

Guida Palhota disse...

Eu, pronto!
Acho que sou dona de uma lucidez conseguida pelo conhecimento de ambos os lados da maçã - o de fora e o de dentro (um de cada vez, extremando situações) -, e vivo agora um estado de absorção da maçã por inteiro...

Guida Palhota disse...

Vítor,

Hoje venho para te lançar um desafio triplo:

a) um post sobre o 'sal'
b) um post sobre o 'sol'
c) um post sobre o 'sul'

beijos
para inspirar

Vítor disse...

Guida:

Desafio aceite!
Só não sei quando cumprirei esta promessa, pois o trabalho a despachar é mais que muito.
Mas vou tentar.

Beijo

Guida Palhota disse...

Obrigada, Vítor!
Toma o tempo de que precisares.
Eu sento-me aqui a uma 'sombra', neste meu 'centro-norte' do país, curiosa para saborear o 'tempero' das tuas iguarias.

Bom trabalho
e
Boa inspiração

Vítor disse...

Guida:

Vi este teu último comentário já depois da publicação da primeira parte da resposta ao desafio.

Beijo