Depois de mais uma volta na cama, lentamente abriu os olhos e demoradamente o procurou na outra metade do leito. Nem sinal da sua presença. Em sobressalto, sentou-se de olhos fixos no breu do quarto, ouvindo o rumor, ritmado e progressivo, das ondas quebrando nas falésias vizinhas, num crescendo infinito, como se o mar quisesse, em fúria, definitivamente iniciar a sua invasão da terra por aquela enseada. Enterrou a cabeça nas mãos e um choro, que começou quase mudo, em breve se tornou pranto, como se as suas lágrimas quisessem inundar-lhe a casa, em conluio com o mar.
Ele partira há já muitos dias, mar adentro, manobrando sozinho na popa do seu pequeno barco e nunca mais voltara nem dele soubera qualquer nova. Teria o mar decidido vingar-se da sua ousadia? E agora o mar revolto tentava entrar-lhe pela casa. Porquê? Só porque ele, um dia, lha tinha roubado e a tinha trazido para viver consigo? Não pode um homem amar uma Estrela do Mar?