quinta-feira, 19 de março de 2009

Lua bebida


Bebido o luar

Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.



Sophia de Mello Breyner Andresen

4 comentários:

Guida Palhota disse...

Proponho

Bebermos o sol
Embriagarmo-nos de luz
Colhermos a flor mais bela
E saborearmos o fruto apetecido

Tudo será nosso
Se o quisermos nosso

Ganhemos o mundo
por sabermos frui-lo
Inventemos
a partir do que temos
Amemos momentos
como se fossem a vida

Deuses seremos
em cada ilusão,
que é vida, como o restante
Deuses solitários
mas equilibrando forças
Deuses da bamba corda
vencida por determinação

Bebamos o sol
e a sua alegria
E façamos brilhar em nós
A conquista do que sonhamos

Podemos ser
pássaros livres
esvoaçando sobre o mar
Em comunhão
com o céu azul
com a brisa da tarde
com a ondulação

Da poderosa Natureza
será nosso tudo aquilo
que nos extasiar
Basta, com amor,
arrebatar...

Vítor disse...

Eu aceito a proposta e penso que a Sophia também, tal como aceitaste a dela.

Obrigado, Margarida, por mais uma vez emprestares o brilho da tua escrita a esta humilde tasca...

Clarice disse...

Bom dia do Pai!
Que "soprem" muitas luas juntos, tu e a deliciosa C.:)

Esta "Lua bebida" fica hoje aqui tão bem...

Vítor disse...

Obrigado, Clarice.
Nós vamos soprando mesmo quando a lua não se vê!