quinta-feira, 16 de abril de 2009

imitatio

É claro que nos comportamos imitando, ao longo de todas as décadas das nossas infâncias. Começamos por imitar os outros e passamos a imitar-nos, a nós próprios, quando tentamos seguir uma linha de coerência. Consciente ou inconscientemente, norteamo-nos (ou orientamo-nos) pelos faróis modelares que vamos encontrando na navegação à vista a que chamamos vida. É por isso que, enquanto pais e educadores, sem deixarmos de ser nós, temos a obrigação de encarnar as personagens certas nos momentos fulcrais das vivências experienciais das nossas crianças e dos nossos adolescentes. Já o sabia enquanto professor e estou a aprendê-lo como pai. E não é nada fácil...

*Hoje, apeteceu-me assinalar a capicua que este post é (111), não por imitação, mas por a Lady Godiva, no seu Mar Aberto, nos ter recentemente relembrado a beleza de certas combinações numéricas ou morfossintácticas.

5 comentários:

Lady Godiva disse...

Psst... Parabéns pela capicua!

Tenho cá para comigo que agimos imitando em todas as décadas das nossas existências, embora com uma frequência inversamente proporcional à idade, o que terá a ver com o grau de maturidade. Nem será preciso ir muito longe, para comprovar esta ideia. Talvez possamos ficar por aqui mesmo, pelo teatro dos blogues.

Agora... de pequenino é que se torce o pepino. Portanto, não nos descuidemos com os nossos mais novos, em formação, em aquisição de valores e modelos comportamentais, e enveredemos pelo caminho do exemplo, dos actos com sentido, pensados, estudados, razoáveis, coerentes. Convém não facilitar o uso da velha fórmula "Faz o que eu te digo; não faças o que eu faço", porque a memória regista bastante melhor imagens do que palavras e porque ceder a um impulso é bastante mais fácil do que controlá-lo.

Não é, de facto, nada fácil educar e eu não conheço ninguém que tenha feito um curso com matérias específicas de maternidade ou paternidade... Todos aprendemos já depois de o sermos - por muito contacto que tenhamos tido com a educação dos filhos de outros. Convém, pois, estarmos sempre alerta, porque é muito mais provável falharmos do que acertarmos.

Contudo, apesar de todas as dificuldades, acredito que, se formos pessoas de bem, conseguiremos transmitir bons valores.

Um beijo
e bom trabalho
na educação da menina C.,
ou seja, faróis sempre apontados para os melhores caminhos.

Vítor disse...

lady:

Psst... Obrigado!

Tenho cá para comigo que a frequência com que imitamos não é inversamente proporcional à idade em absoluto. Sê-lo-á numa perspectiva - que me atrevo a perceber nas tuas palavras -, em que pensemos que, à medida que crescemos, vamos sendo mais imitados do que imitadores. Mas, por outro lado, ao 'amadurecermos', tendemos a cada vez mais imitar os nossos próprios gestos, repetindo-os porque nos estruturam: somos o que somos porque nos imitamos.

Lady Godiva disse...

Digamos que vieste aqui agora com perspectivas complementares...
Mas, sabes, apesar de (também) concordar contigo, no geral e no meu particular, devo dizer-te que, ultimamente, tenho feito por deixar de me imitar...
É que as vidas das pessoas dão voltas. Muito mais do que possamos pensar. E, talvez, nem por isso deixemos de ser o que somos!

(Oh, diabo, estarei a perder a minha maturidade?!)

Vítor disse...

lady:

Digamos que apenas tentei explicar melhor o que já tinha dito no post: "passamos a imitar-nos, a nós próprios, quando tentamos seguir uma linha de coerência".
Mas, sabes, também concordo contigo em relação às voltas que as vidas das pessoas dão. É que eu também não disse que 'a nossa vida é só imitação'...

Clarice disse...

Imitamos... por fora até é só isso... mas por "dentro", quando estamos a imitar, acrescentamos pedacinhos de nós, incorporamos portando!

Por exemplo, uma criança quando brinca com bonecos,imita a sua mãe, mas está a "experimentar" ser (ela própria mãe), e nunca distante do que sente como filha... é desta "mistura" que à medida que crescemos seleccionamos o que queremos ou não queremos "imitar"/incorporar.
E felizmentre que assim é!

Belo post, menino Vítor!