Olhou pela primeira vez para o número que lhe calhara no check in: 9D. Pelo menos, tivera a sorte de ficar na parte da frente e de ocupar uma coxia - detestava sentar-se à janela. Procurou o seu lugar, que não tardou a encontrar, e, olhando sem ver, balbuciou um quase imperceptível «Excuse me!» dirigido à ocupante do 9E, sentando-se imediatamente sem esperar por qualquer anuência. Queria apenas apertar o cinto e fechar os olhos até se completarem a descolagem e a vertiginosa subida até ao patamar de cruzeiro.
Ela, sem tirar os olhos do livro que não lia, ainda esboçou uma tentativa de resposta mas já não foi a tempo. Sentiu imediatamente a tensão do seu novo vizinho, transpirada no cheiro a uísque e na crispação com que os dedos se cravavam nos joelhos parecendo quererem arrancar-lhes as rótulas. Os seus olhos continuaram a percorrer as linhas do livro aberto como quem segue o caminho de um desses labirintos quebra-cabeças.
1 comentário:
Curioso, este número não me é nada estranho... é acolhedor, "sweet"! E olha que as letras também falam comigo: 'D' de desejo (da viagem), 'E' de esperança (que ela aconteça)...
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