quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Wireless


Pensei entrar em pânico e desesperar se e quando isto me acontecesse, mas aquilo que sinto é uma estranha serenidade e a plena consciência de que não me restam muitos minutos de oxigénio e de que o meu fato e restante equipamento talvez não resistam até então. Não há lugar para o medo nem para lamentações. Nunca nenhum homem pôde, como eu, morrer de forma tão bela, viajando à deriva, mergulhado no caldo primordial, em comunhão com todos os elementos que constituem, desde sempre e para sempre, o nosso universo. Não, não vou morrer; vou regressar ao que sempre fui. E nem quero pensar muito nisso. Quero aproveitar cada momento da mais bela viagem de todas. Quero ver tudo até ao último instante. A Terra é tão bela vista de longe. E parece tão quente e tão alegre. Ah! Frio! Muito frio! Talvez tenha começado a penetrar no fato pelo rasgão do cordão umbilical que me prendia à estação... Que belo! Que belo! Que belo!...

2 comentários:

Lady Godiva disse...

Ship of fools

The human race was dying out
no one left to scream and shout.
People walking on the moon,
smog will get you pretty soon.
(Ship of fools, ship of fools)

Everyone was hangin' out,
hangin' up and hangin' down.
Hangin' in and holdin' fast,
hope our little world will last.

Yeah along came Mister Good Trips
looking for a new ship.
Come on people, better climb on board.
Come on baby, now we're going home.
Ship of fools, ship of fools.

JIM MORRISON

(dot dot dot)

Vítor disse...

Pois é... a Nave dos Loucos é cruzeiro que nunca tem fim. Em cada porto, o apelo renova-se:
«À barca, à barca, oulá,
Que temos gentil maré!»
E, rebentando pelas calafetagens, cada vez mais lotada, lá se faz ao rio do esquecimento... E que ninguém se esqueça do óbulo... nem tu, Menipo, ó cínico dos cínicos, estás isento...
«É esta a naviarra nossa?
De quem?
Dos loucos!
Vossa!»