diz tanto, mas não o suficiente para expressar as dores mais fortes e mais fundas que o corpo e a alma sofrem quando as distâncias, abrupta e implacavelmente, se cavam em fossos, se erguem em muros...
"Oh, pedaço de mim Oh, metade afastada de mim Leva o teu olhar Que a saudade é o pior tormento É pior do que o esquecimento É pior do que se entrevar...)
*há muros enormes que crescem com o tempo... mas se nós conseguirmos (e conseguimos porque eu já li e ouvi que é obrigatório conseguir:)) espreitamos por cima deles... é que há paisagem mais além...
'Saudade' não é aquilo que é referido no "Pedaço de Mim", que tão expressivamente postaste ilustrando o que escreveste a seguir (ou ao contrário). Porque 'saudade', no meu entendimento, é uma palavra sem dor, é a presença, em memória, de um bem passado que nos traz à pele um leve e doce arrepio e aos lábios um esgar de sorriso revelador do prazer que nos proporcionam as boas lembranças. A saudade é um sentimento acompanhado de resignação pela perda. Ter saudades NÃO é sofrer o desejo da retoma, do reencontro, da repetição. A saudade é uma espécie de leitor de nós, que nos permite "reviver" um prazer passado, experimentando o prazer da recordação. É uma capacidade humana para revisitar, na ausência, sentindo a presença... Chico Buarque NÃO está a falar disto. Não tem é outra palavra para referir o que quer expressar. E, por isso, todas as outras, explicativas - as dele e as tuas! ...
clarice: para conseguirmos espreitar por cima dos muros e ver a paisagem que há mais além serão precisas duas coisas: que queiramos espreitar sobre o muro e que o muro atrase um bocadinho o crescimento para nos deixar espreitar.
margarida: é isso mesmo - "sofrer o desejo da retoma, do reencontro, da repetição", como dizes -, mas acho que ainda há mais e que não conseguirá ser dito com palavras (pelo menos eu não as encontro).
É lindíssima esta música e há imensos anos que não a ouvia! Concordo contigo em relação ao que dizes sobre a saudade, ela pode ser um enorme tormento, um enorme murro no estômago quando nos lembramos, por exemplo, de alguém que já não está entre nós, que muito amámos em vida e que sabemos que jamais voltaremos a ver. Aí as saudades não trazem nada de bom, nem sequer um sorriso nos lábios. Vítor, vou deixar uma palavrinha à Margarida, ok?
Margarida: Acho que confundes recordações com saudades. A dor da perda da minha mãe(por, ex.) há já dezassete anos, não diminuiu com o tempo e as saudades que sinto dela trazem-me sempre sofrimento. No entanto tenho dela muito boas recordações que me fazem sorrir muitas vezes.
Vítor, posso falar, mais uma vez, à Rute? É que ela não vem ripostar... Obrigada.
Rute: O que me pareceu que o Vítor quis dizer (e eu concordei com ele) foi que, muitas vezes, a palavra 'saudade' "não chega" (e não há nenhuma que nos sirva) para expressar um sentimento que implique a noção da impossibilidade ou da extrema dificuldade de repetição de algo que gostaríamos de reviver. A dor que sentes por não poderes voltar a encontrar-te com a tua mãe é, por exemplo (no meu entendimento, claro), algo mais intenso do que saudade. E é disso que o Chico fala - com inúmeras palavras, porque não existe uma que, sozinha, seja suficiente para expressar a profundidade da dor, o "murro no estômago", como referes. Sofrer a impossibilidade de satisfação do "desejo da retoma, do reencontro, da repetição" é algo muito mais forte do que a saudade, e é, seguramente, doloroso. A saudade não. Mas tu também sentes 'saudades' da tua mãe - quando a recordas com alegria e orgulho por teres convivido com ela.
Nunca poderia haver confusão entre saudade e recordação, pois a saudade é a recordação de algo de bom, mas há recordações de vivências muito más. E dessas não temos saudades.
P.S. Quem me dera, Rute (tenho mesmo de acrescentar isto), poder ir ali ao café trocar umas palavrinhas com a tua mãe. Sinto mais do que saudades dela, que nos deixou prematuramente, e das conversas que ela tinha com todos nós - não podendo, obviamente, comparar-me contigo.
(Já da nossa adolescência, por exemplo, sinto "apenas" saudades, pois recordo-a com todo o carinho e agrado, mas não queria voltar a ela nem me magoa saber que não posso lá voltar.)
Margarida: ( Eu sei que tu dás licença, Vítor :D )
Concordo em tudo contigo. Coisa extraordinária, hem! Desculpa, mas tenho que fazer uma pequena rectificação, há um pequeno pormenor de que eu discordo de ti: a saudade também pode trazer dor, não que isso tenha que acontecer sempre, mas às vezes acontece, associada a outros sentimentos que podem ser de perda ou não. Mas realmente há a falta de uma palavra para se expressar devidamente uma imensa dor de uma ausência permanente de alguém que muito amámos, por exemplo. É claro que tambem me recordo da minha mãe com um sorriso nos lábios, porque foi um privilégio ter uma mãe assim e com ela vivi momentos de grande felicidade e intensidade afectiva. As coisas essênciais da vida, para mim claro, aprendi com ela! Bem, mas estou no blogue do Vítor... desculpa lá rapaz, acho que me estiquei e falei de coisas que não vinham a propósito!
1 beijo para ti Vítor, por me teres deixado usar e abusar do teu espaço
1 beijo para ti Guida, por teres falado de uma pessoa que me é TÃO querida
Ó miúdas, estejam à vontade! A minha casa é a vossa casa. Tenho todo o gosto que usem este espaço como se dos vossos se tratasse. Eu faço o mesmo quando lá vou. Não nos sentimos sempre em casa, em casa dos amigos?
Beijos para as duas (e para o resto dos visitantes também, claro!)
13 comentários:
"Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar...)
*há muros enormes que crescem com o tempo... mas se nós conseguirmos (e conseguimos porque eu já li e ouvi que é obrigatório conseguir:)) espreitamos por cima deles... é que há paisagem mais além...
Esqueci-me de te dizer amigo Vítor, eu gosto muito desta música!
'Saudade' não é aquilo que é referido no "Pedaço de Mim", que tão expressivamente postaste ilustrando o que escreveste a seguir (ou ao contrário). Porque 'saudade', no meu entendimento, é uma palavra sem dor, é a presença, em memória, de um bem passado que nos traz à pele um leve e doce arrepio e aos lábios um esgar de sorriso revelador do prazer que nos proporcionam as boas lembranças.
A saudade é um sentimento acompanhado de resignação pela perda. Ter saudades NÃO é sofrer o desejo da retoma, do reencontro, da repetição.
A saudade é uma espécie de leitor de nós, que nos permite "reviver" um prazer passado, experimentando o prazer da recordação. É uma capacidade humana para revisitar, na ausência, sentindo a presença...
Chico Buarque NÃO está a falar disto. Não tem é outra palavra para referir o que quer expressar. E, por isso, todas as outras, explicativas - as dele e as tuas!
...
clarice:
para conseguirmos espreitar por cima dos muros e ver a paisagem que há mais além serão precisas duas coisas: que queiramos espreitar sobre o muro e que o muro atrase um bocadinho o crescimento para nos deixar espreitar.
margarida:
é isso mesmo - "sofrer o desejo da retoma, do reencontro, da repetição", como dizes -, mas acho que ainda há mais e que não conseguirá ser dito com palavras (pelo menos eu não as encontro).
Ah!
Margarida!
Gosto mesmo da foto do teu perfil!
(Já to tinha dito?)
Vítor
É lindíssima esta música e há imensos anos que não a ouvia!
Concordo contigo em relação ao que dizes sobre a saudade, ela pode ser um enorme tormento, um enorme murro no estômago quando nos lembramos, por exemplo, de alguém que já não está entre nós, que muito amámos em vida e que sabemos que jamais voltaremos a ver. Aí as saudades não trazem nada de bom, nem sequer um sorriso nos lábios.
Vítor, vou deixar uma palavrinha à Margarida, ok?
Margarida:
Acho que confundes recordações com saudades. A dor da perda da minha mãe(por, ex.) há já dezassete anos, não diminuiu com o tempo e as saudades que sinto dela trazem-me sempre sofrimento. No entanto tenho dela muito boas recordações que me fazem sorrir muitas vezes.
Vítor, vou responder à Rute, ok? Grata.
Rute:
Eu até posso confundir tudo com tudo..., mas porquê só eu?! A minha opinião não é diferente da do Vítor e com ele tu concordaste!
Desculpa, Vítor, mas apetece-me perguntar:
Porque é que não há quem ponha ordem nesta discussão?
Vítor, posso falar, mais uma vez, à Rute? É que ela não vem ripostar... Obrigada.
Rute:
O que me pareceu que o Vítor quis dizer (e eu concordei com ele) foi que, muitas vezes, a palavra 'saudade' "não chega" (e não há nenhuma que nos sirva) para expressar um sentimento que implique a noção da impossibilidade ou da extrema dificuldade de repetição de algo que gostaríamos de reviver.
A dor que sentes por não poderes voltar a encontrar-te com a tua mãe é, por exemplo (no meu entendimento, claro), algo mais intenso do que saudade. E é disso que o Chico fala - com inúmeras palavras, porque não existe uma que, sozinha, seja suficiente para expressar a profundidade da dor, o "murro no estômago", como referes.
Sofrer a impossibilidade de satisfação do "desejo da retoma, do reencontro, da repetição" é algo muito mais forte do que a saudade, e é, seguramente, doloroso. A saudade não.
Mas tu também sentes 'saudades' da tua mãe - quando a recordas com alegria e orgulho por teres convivido com ela.
Nunca poderia haver confusão entre saudade e recordação, pois a saudade é a recordação de algo de bom, mas há recordações de vivências muito más. E dessas não temos saudades.
P.S. Quem me dera, Rute (tenho mesmo de acrescentar isto), poder ir ali ao café trocar umas palavrinhas com a tua mãe. Sinto mais do que saudades dela, que nos deixou prematuramente, e das conversas que ela tinha com todos nós - não podendo, obviamente, comparar-me contigo.
(Já da nossa adolescência, por exemplo, sinto "apenas" saudades, pois recordo-a com todo o carinho e agrado, mas não queria voltar a ela nem me magoa saber que não posso lá voltar.)
Margarida: ( Eu sei que tu dás licença, Vítor :D )
Concordo em tudo contigo. Coisa extraordinária, hem! Desculpa, mas tenho que fazer uma pequena rectificação, há um pequeno pormenor de que eu discordo de ti: a saudade também pode trazer dor, não que isso tenha que acontecer sempre, mas às vezes acontece, associada a outros sentimentos que podem ser de perda ou não. Mas realmente há a falta de uma palavra para se expressar devidamente uma imensa dor de uma ausência permanente de alguém que muito amámos, por exemplo. É claro que tambem me recordo da minha mãe com um sorriso nos lábios, porque foi um privilégio ter uma mãe assim e com ela vivi momentos de grande felicidade e intensidade afectiva. As coisas essênciais da vida, para mim claro, aprendi com ela!
Bem, mas estou no blogue do Vítor... desculpa lá rapaz, acho que me estiquei e falei de coisas que não vinham a propósito!
1 beijo para ti Vítor, por me teres deixado usar e abusar do teu espaço
1 beijo para ti Guida, por teres falado de uma pessoa que me é TÃO querida
Ó miúdas, estejam à vontade!
A minha casa é a vossa casa. Tenho todo o gosto que usem este espaço como se dos vossos se tratasse. Eu faço o mesmo quando lá vou. Não nos sentimos sempre em casa, em casa dos amigos?
Beijos para as duas (e para o resto dos visitantes também, claro!)
Também envias beijinhos ao Meíreles? É que ele já disse à Margarida que não o apanham a mandar beijinhos aos rapazes... :D
1 beijo também para ti
Gosto de vir à tua casa, sinto-me por cá bem
Ó Rute, em matéria de beijos, é para toda a gente. Quem não quiser beijar-me de volta é bem-vindo também. Não quero é que ninguém fique com ciúmes.
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