quarta-feira, 8 de outubro de 2008

(Nove) Vidas


Quem vier à baía, tem sempre de passar por mim. Espero, no fim da descida, para dar as boas vindas aos que, mesmo sem o saberem, entram nos meus domínios - aqui sou senhor, aqui vivo desde sempre todas as vidas, as minhas e as de quem por cá passa nem que seja apenas um minuto. Vivo os dias longos e as noites frias, as marés baixas e as altas, as calmarias e as tempestades, a fome e a abundância, enfim... a vida deste côvo porto de mar, onde há tantos séculos desembarquei e de onde nunca mais quero zarpar. As saudades que tenho da terra em que nasci já são tão longínquas e insignificantes que se resumem à imagem vaga e difusa do palmar onde dei os primeiros passos na areia escaldante da margem do rio mais antigo de todos. Mas é aqui que vivo a eternidade.

9 comentários:

Carlos Lopes disse...

Viver a eternidade!!! Ou pelo menos vivê-la enquanto dura...

Clarice disse...

..."a vida deste côvo porto de mar, onde há tantos séculos desembarquei e de onde nunca mais quero zarpar."

Eu tenho Sesimbra!
Sabes Vítor, tenho uma fotografia linda de morrer à beira mar de mão dada com o meu pai e eu ainda de fralda...
(os nossos pais são como as prais que escolhemos, para sempre...)

Lady Godiva disse...

Aqui também tenho nove vidas (as de cada um que por cá passa, "nem que seja [por] um minuto". Espero à porta. Mas o lugar não é de sempre nem sei se um dia não quero zarpar. E que dia? A eternidade, para mim, é uma ilusão e não sei se persigo ilusões.

Lady Godiva disse...

Esqueci-me de referir o meu gosto pelas Nine Lives, Stray Cats, e o teu jeito para compor...
Parabéns.

Clarice disse...

Vês? "o teu jeito para compor..." que a lady disse?????

Vítor disse...

Carlos:
"Saravá, pra quem é de saravá! Benção, pra quem é de benção!"

'O branco mais preto do Brasil' dixit:
"Que não seja imortal, posto que é chama \ Mas que seja infinito enquanto dure."

E se Ele o disse sobre o amor, gloseando o Outro, Tu também o podes fazer sobre a vida.
Três grandes poetas juntos ficam sempre bem!...

Vítor disse...

Clarice (1):
Eu andava lá perto: quando "aqui há atrasado" (18.09) te perguntei 'Que ilha é aquela que vês?', pareceu-me que vias a Pedra da Anicha no Portinho... mas ainda não tenho a certeza!
Pois, tal como 'eles', talvez sejam as praias que nos escolhem a nós...

Vítor disse...

Lady Godiva (1):
A fugacidade também é uma ilusão, tão verdadeira como a outra. Quando zarpamos, na maior parte das vezes não "o queríamos"; quando "o queremos", raramente o conseguimos. Na sua versão original, o texto inaugural de «Os Mestres & As Criaturas Novas» queria acrescentar às palavras de Morrison algo como a tradução inglesa do latino 'carpe diem'. Era, não era?

Vítor disse...

Clarice (2) e Lady Godiva (2):
Vocês são amorosas (e exageradas!)... digamos que saiu menos mal... De qualquer modo, bem hajam!