Quem vier à baía, tem sempre de passar por mim. Espero, no fim da descida, para dar as boas vindas aos que, mesmo sem o saberem, entram nos meus domínios - aqui sou senhor, aqui vivo desde sempre todas as vidas, as minhas e as de quem por cá passa nem que seja apenas um minuto. Vivo os dias longos e as noites frias, as marés baixas e as altas, as calmarias e as tempestades, a fome e a abundância, enfim... a vida deste côvo porto de mar, onde há tantos séculos desembarquei e de onde nunca mais quero zarpar. As saudades que tenho da terra em que nasci já são tão longínquas e insignificantes que se resumem à imagem vaga e difusa do palmar onde dei os primeiros passos na areia escaldante da margem do rio mais antigo de todos. Mas é aqui que vivo a eternidade.
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9 comentários:
Viver a eternidade!!! Ou pelo menos vivê-la enquanto dura...
..."a vida deste côvo porto de mar, onde há tantos séculos desembarquei e de onde nunca mais quero zarpar."
Eu tenho Sesimbra!
Sabes Vítor, tenho uma fotografia linda de morrer à beira mar de mão dada com o meu pai e eu ainda de fralda...
(os nossos pais são como as prais que escolhemos, para sempre...)
Aqui também tenho nove vidas (as de cada um que por cá passa, "nem que seja [por] um minuto". Espero à porta. Mas o lugar não é de sempre nem sei se um dia não quero zarpar. E que dia? A eternidade, para mim, é uma ilusão e não sei se persigo ilusões.
Esqueci-me de referir o meu gosto pelas Nine Lives, Stray Cats, e o teu jeito para compor...
Parabéns.
Vês? "o teu jeito para compor..." que a lady disse?????
Carlos:
"Saravá, pra quem é de saravá! Benção, pra quem é de benção!"
'O branco mais preto do Brasil' dixit:
"Que não seja imortal, posto que é chama \ Mas que seja infinito enquanto dure."
E se Ele o disse sobre o amor, gloseando o Outro, Tu também o podes fazer sobre a vida.
Três grandes poetas juntos ficam sempre bem!...
Clarice (1):
Eu andava lá perto: quando "aqui há atrasado" (18.09) te perguntei 'Que ilha é aquela que vês?', pareceu-me que vias a Pedra da Anicha no Portinho... mas ainda não tenho a certeza!
Pois, tal como 'eles', talvez sejam as praias que nos escolhem a nós...
Lady Godiva (1):
A fugacidade também é uma ilusão, tão verdadeira como a outra. Quando zarpamos, na maior parte das vezes não "o queríamos"; quando "o queremos", raramente o conseguimos. Na sua versão original, o texto inaugural de «Os Mestres & As Criaturas Novas» queria acrescentar às palavras de Morrison algo como a tradução inglesa do latino 'carpe diem'. Era, não era?
Clarice (2) e Lady Godiva (2):
Vocês são amorosas (e exageradas!)... digamos que saiu menos mal... De qualquer modo, bem hajam!
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